Mara (03/12)
O caminho para Mara é circundado por planícies alagadas e manguezais. Anteriormente a vegetaçao era mais extensa e mais exuberante, mas o avanço do homem e a construçao de estradas interrompendo os cursos de água secou lagos e destruiu a vegetaçao local, estes terrenos foram rapidamente ocupados por habitaçoes e comércio.
Vamos para a zona rural de Mara. A populaçao de assenta de forma bastante dispersa tornando tudo muito distante, sempre leva-se horas de caminhadas para uma escola ou para um consultório. A estrada nao está nas melhores condiçoes, mas permite a circulaçao de automóveis. Um sério problema é a falta de água. Nao há água potável na regiao, toda a água que é usada deve ser trazida por caminhoes e armazenadas em cisternas. Assim, as diarréias estao entre as primeiras causas de morbidade da populaçao. O acesso a água está melhorando pouco a pouco, a medida que o governo vai construindo tubulaçoes para a distribuiçao de água, sao muitos quilometros de tubos já que a água deve ser trazida do reservatório de Maracaibo.
Visitamos algumas escolas dessa regiao.Muitas ainda nao estao em boas condiçoes, mas em todas existem obras avançadas de construçao de novos edifícios. Apesar da populaçao ser quase 100% Wayuü nao existe nenhuma política bem consolidada para o trabalho com a cultura tradicional deste povo. Havia uma professora de cultura e idioma wayuü em duas escolas, em uma estava recém contratada, mas na outra já está atuando há alguns meses. Nesta já existem trabalhos sobre a cultura, o artesanato, a história e o idioma indígena, em uma parede é possível ver três painéis pintados contando um pouco da atividade deste povo (nao sei porque fiz foto de apenas 1! Está no texto anterior)
Fazemos rápidas visitas a alguns consultórios populares. Em um deles encontro um consultório maior, melhor estruturado, com salas para consulta, observaçao e curativo/parto. O médico é um wayuü, versado nos dois idiomas e que atende os ancioes em seu idioma nascimento. Na regiao existem outros médicos que, como este, foram formados pela ELAM e constituem o chamado Batalhao 51. Existem médicos venezuelanos, hondurenhos, guatemaltecas e de outros países caribenhos. Escuto muitos relatos sobre como a chegada desses médicos foi boa para aquela populaçao, historicamente desassistida. Além disso relatam que esses médicos têm sido interessantes por terem sido formados com outro tipo de consciência social, conseguindo lidar e se aproximar melhor dos seus pacientes.
Por ali também existe um ambulatório rural da antiga estrutura do Ministério da Saúde. Nele estao dois médicos, um pela manha e outro pela tarde, além de serviços de odontologia e vacinaçao. Algumas atividades comunitárias sao desenvolvidas com escolas e visitas domiciliares ocasionalmente. Para essas atividades fora do consultório reservam um dia por semana. Impressiono-me com a total ausencia de comunicaçao entre os consultórios populares e este ambulatório. Nao existe nenhum tipo de açao conjunta. Isso é extremamente despotencializante.
Por fim, voltamos a Maracaibo.
Páez (04/12)
Esta cidade fica ainda depois de Mara. Depois de passarmos por aqueles manguezais, atravessamos o Rio Limao e nos aproximamos bastante da fronteira com a Colômbia e do Golfo da Venezuela. De tal forma que de um lado de nosso caminho temos larga extensao de terrenos alagados por água marítima. Neste lugar, quando chega a época mais seca do ano (por volta de Março) as águas se retraem e deixam grandes camadas de sal marinho que ajuda no sustento da cidade ao ser vendido para as refinarias. Se vamos no sentido contrário a estes alagados marinhos, menos de 1 quilometro, encontramos novamente água doce em lagos. Avançamos pouco para o interior, as chuvas alagaram as estradas e invadiram as casas.
Seguindo por uma estrada às margens dos alagados marinhos chegamos até Paraguaipoa a cerca de 30 minutos da fronteira. Neste local visitamos um hospital tipo II incorporado ao Barrio Adentro que está totalmente em reforma, remodelaçao e ampliaçao. Passo um bom tempo conversando com algumas gerencias locais que me detalham quais sao e qual a relaçao entre os serviços de saúde de Páez. Pela primeira vez vejo um trabalho conjunto entre Barrio Adentro e estrutura tradicional. Os novos consultórios populares foram colocados nos lugares onde nao tinham ambulatorios rurais, alguns de responsabilidade do governo estadual e outros do municipal. As açoes sao complementares, com o Barrio Adentro auxiliando com pessoal para a realizaçao de vacinas e médicos no lugares onde nao se consegue contratar. A maior parte dos médicos venezuelanos que trabalham nesta regiao estao cumprindo com o chamado "artigo 8". Este artigo obriga que todos os recém formados, antes de ingressar em uma residencia médica para especializaçao, devem trabalhar em locais sem assistência médica por 1 ano. Assim o corpo clínico da cidade é bastante rotativo, com exceçao daqueles profissionais alocados pela Misión.
Converso com uma médica venezuelana que está nesta condiçao, relata como este período foi importante para dar-se conta que existe uma outra realidade bastante distinta da de Maracaibo, profissionalmente contribuiu-lhe em superar um modelo de saúde puramente curativo, valorizando mais as atividades de prevençao e promoçao de saúde, além de ter aprendido a lidar com outros povos, outras culturas, outras classes sociais. O problema é o baixo salário, cerca de $900,00 dólares.
O novo projeto do hospital prevê mais consultas de especialidades, ampliaçao do laboratório, serviço de anatamopatologia, cirurgia ambulatorial e serviços específicos de emergencia adulta, pediátrica e obstétrica. O interessante é que o projeto prevê a existência de chinchoros nas observaçoes e internaçoes. Haverá um desenvolvimento e trabalhos com a medicina tradicional wayuü. Na emergência obstétrica haverá espaço específico para as comadronas, é uma tentativa de reduzir os partos domiciliares, aumentar a atençao médica à gestante e ao recém-nascido e assim reduzir a mortalidade maternoinfantil. Muita gente do povo wayuü nao permite que médicos assistam às parturientes.
Nao conseguimos chegar a um ponto turístico que queriam me mostrar (La Laguna), a partir de determinado ponto o alagamento ainda estava muito fundo. Mas algumas fotos interessantes estao aí, como o canoeiro que vai tirando sua canoa do rio para a estrada alagada. Em outra foto, o branco que se às margens da água é sal (paulistas, nem sempre branco na água é poluiçao! rs). Abaixo uma foto do Rio Limao.
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