Fazemos uma parte do caminho de metrô. Um belo sistema metroviário, bem organizado, muito movimentado, mas sem dúvida ainda nao tanto quando o de Sao Paulo. Por uma casuidade o trem pára (lembro, de imediato, horas que perdi ano passado, em Sao Paulo, com panes nos trens). Fazemos o resto do caminho de táxi e depois de passarmos por uma parte nobre da cidade, com ruas muito arborizadas ficamos felizes de chegar ao hotel. Parece-nos que o taxista nao enxerga muito bem! Um velhinho talvez um pouquinho velhinho demais e um poquinho mais cego do que deveria ser um taxista! hehehe
Estamos ali para participar de uma Oficina (taller) sobre a Formaçao de Talento Humano para Atençao Primaria em Saúde. Foi boníssima! Diretores de saúde de todo o país, reunindo-se com Ministério do Poder Popular para Saúde para discutir a conformaçao de um sistema de saúde e a inserçao e formaçao dos trabalhadores nisso.
Primeiro Dr. Pedro Bonal, da Espanha, passa-nos um pouco da experiência que tem tipo por lá nos últimos 30 anos. Depois seguimos com um breve histórico do sistema de saúde venezuelano e do programa Barrio Adentro. Nesta apresentaçao (ponencia) podemos ver um pouco do que está se propondo na conformaçao do sistema, parecido com o esquema que pus anteriormente. É baseado nas Area de Salud Integral y Comunitaria, responsáveis pela atençao, vigilancia, gestao e planejamento, formaçao e analise da situaçao de saúde da comunidade adscrita. Cada ASIC, em conjunto com equipamentos de apoio diagnóstico, reabilitaçao e hospitais gerais esta dentro de um sistema distrital, que junto com outros e com hospitais especilizados conformam os sistema estaduais. Hospitais especializados e nacionais entram para conformar as redes territoriais, o círculo mais ampla, mais externo. Ressalta-se sempre que o centro do sistema é a família e que tem propostas para a incorporaçao dos serviços de saúde tradicionais.
Na palestra seguinte, Dr. Bonal coloca-nos da esperiencia espanhola de formaçao em Medicina de Família e Comunidade, a criaçao de pós-graduaçoes e a influencia sobre asd graduaçoes. Enfatiza bem que a formaçao coloca niveis de responsabilidade e prioridade e que nao obedece os ditames do mercado. As vagas sao dadas pelo governo conforme as necessidades diagnosticadas.
Dr. Francisco expoe sobre as condiçoes de trabalho para que se desenvolva um serviço de qualidade e digno para satisfazer as necessidades dos trabalhadores, da comunidades e das pessoas que usam o sistema (aqui, o termo "usuario" que costumamos usar no Brasil, tem uma conotaçao tao mercantilista quanto "cliente", preferem pacientes). Uma ótima discussao de temas como saude ocupacional, higiene ocupacional, biosegurança, legislaçao, formaçao (tecnica, permanente, profissionalizante, politica e ideológica), mas também uma bela discussao dos princípios que devem reger as relaçoes (respeituosas, fraternas, solidárias, democráticas, com gestao participativa e pomotora de desenvolvimento pessoal.)
Finalmente, para irmos para as mesas de trabalho, fala-se sobre o Programa Nacional de Formaçao em Medicina Integral Comunitaria. Ressalta-se também que este programa inclui formaçao em enfermagem e engenharia clínica.
Os trabalhos nas mesas sao estimulantes! Discussao democratica, com gestores dispostos a falar e a expor suas fragilidades! Em cima dos problemas apontados somos deveras propositivos! O relato de nosso grupo é de 6 páginas de propostas detalhadas, com responsáveis e prazos para cumprimento! Sim! Assim é bom falar dos problemas! Muito bom!!!
Foi fantástico participar desse riquíssimo momento de construçao de um sistema de saúde público e nacional!
Ah! Foi relatada uma experiência belíssima! O Rio Orinoco é o maior rio da Venezuela e sua desembocadura no mar é um grande delta! Localiza-se no Estado Delta Amacuro e toma boa parte de seu território. Ali existem muitas tribos indígenas de muito difìcil acesso, muitas chegam a 10 horas de viagem de barco. Como resolver a pobreza e o difícil acesso à saúde desses povoados? "Simples", formar moradores dessa comunidade em profissoes da saúde! Fantástica experiencia. Dá vergonha do que temos no Brasil! Na cidade amazônica que conheço, longe e de difìcil acesso, mas nem tao pequena assim (20000 habitantes) a equipe de saúde é mínima a ponto da estrutura ser muito maior que a quantidade de profissionais. Como se nao bastasse, 75% do médicos atua ilegalmente e que, ainda por cima, devolve parte dos aproximadamente R$15000.00 para a prefeitura (que é quem os contrata!). Afff! Ainda assim, se estivesse lá, também contrataria esses médicos sem regularizaçao... os médicos brasileiros legalizados nao querem ir para lá!
Bom. Outro resultado muito bom foi que conseguimos contato com gerentes de variados estados e assim já estou com um cronograma para dar uma volta por toda a Venezuela. De Leste a Oeste! Nao acho adequado detalhar isso aqui, com tanta antecedência, mas aguardem as cenas dos próximos capitulos.
Um pouco de história
Com algum tempo até que nosso onibus saísse passeamos um pouco nas redondezas do terminal. Fomos à Praça Altamira. Muito bela! Com um jardim muito bem cuidado. Essa praça é reconhecida por ser um reduto da direita no país. Na época do golpe de 2002 as lideranças capitalistas reuniam-se nesta praça para discursar para a populaçao. No meio tem uma imagem de Nossa Senhora, dita que para proteger os venezuelanos do "demônio" que é seu presidente. Aquele velho discurso desqualificatório e sem bases que escutamos a direita pronunciar tao comumente também no Brasil. Para mim, parece-me que a presença de um reduto da oposiçao tao publicamente colocado desqualifica o regime político como sendo uma ditadura (afora o fato de até agora nao ter visto qualquer tipo de movimento de repressao a expressao de opinioes, nem pela força, nem pela política).