sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Al Norte de Maracaibo

Mara (03/12)

O caminho para Mara é circundado por planícies alagadas e manguezais. Anteriormente a vegetaçao era mais extensa e mais exuberante, mas o avanço do homem e a construçao de estradas interrompendo os cursos de água secou lagos e destruiu a vegetaçao local, estes terrenos foram rapidamente ocupados por habitaçoes e comércio.
Vamos para a zona rural de Mara. A populaçao de assenta de forma bastante dispersa tornando tudo muito distante, sempre leva-se horas de caminhadas para uma escola ou para um consultório. A estrada nao está nas melhores condiçoes, mas permite a circulaçao de automóveis. Um sério problema é a falta de água. Nao há água potável na regiao, toda a água que é usada deve ser trazida por caminhoes e armazenadas em cisternas. Assim, as diarréias estao entre as primeiras causas de morbidade da populaçao. O acesso a água está melhorando pouco a pouco, a medida que o governo vai construindo tubulaçoes para a distribuiçao de água, sao muitos quilometros de tubos já que a água deve ser trazida do reservatório de Maracaibo.

Visitamos algumas escolas dessa regiao.Muitas ainda nao estao em boas condiçoes, mas em todas existem obras avançadas de construçao de novos edifícios. Apesar da populaçao ser quase 100% Wayuü nao existe nenhuma política bem consolidada para o trabalho com a cultura tradicional deste povo. Havia uma professora de cultura e idioma wayuü em duas escolas, em uma estava recém contratada, mas na outra já está atuando há alguns meses. Nesta já existem trabalhos sobre a cultura, o artesanato, a história e o idioma indígena, em uma parede é possível ver três painéis pintados contando um pouco da atividade deste povo (nao sei porque fiz foto de apenas 1! Está no texto anterior)

Fazemos rápidas visitas a alguns consultórios populares. Em um deles encontro um consultório maior, melhor estruturado, com salas para consulta, observaçao e curativo/parto. O médico é um wayuü, versado nos dois idiomas e que atende os ancioes em seu idioma nascimento. Na regiao existem outros médicos que, como este, foram formados pela ELAM e constituem o chamado Batalhao 51. Existem médicos venezuelanos, hondurenhos, guatemaltecas e de outros países caribenhos. Escuto muitos relatos sobre como a chegada desses médicos foi boa para aquela populaçao, historicamente desassistida. Além disso relatam que esses médicos têm sido interessantes por terem sido formados com outro tipo de consciência social, conseguindo lidar e se aproximar melhor dos seus pacientes.
Por ali também existe um ambulatório rural da antiga estrutura do Ministério da Saúde. Nele estao dois médicos, um pela manha e outro pela tarde, além de serviços de odontologia e vacinaçao. Algumas atividades comunitárias sao desenvolvidas com escolas e visitas domiciliares ocasionalmente. Para essas atividades fora do consultório reservam um dia por semana. Impressiono-me com a total ausencia de comunicaçao entre os consultórios populares e este ambulatório. Nao existe nenhum tipo de açao conjunta. Isso é extremamente despotencializante.
Por fim, voltamos a Maracaibo.

Páez (04/12)

Esta cidade fica ainda depois de Mara. Depois de passarmos por aqueles manguezais, atravessamos o Rio Limao e nos aproximamos bastante da fronteira com a Colômbia e do Golfo da Venezuela. De tal forma que de um lado de nosso caminho temos larga extensao de terrenos alagados por água marítima. Neste lugar, quando chega a época mais seca do ano (por volta de Março) as águas se retraem e deixam grandes camadas de sal marinho que ajuda no sustento da cidade ao ser vendido para as refinarias. Se vamos no sentido contrário a estes alagados marinhos, menos de 1 quilometro, encontramos novamente água doce em lagos. Avançamos pouco para o interior, as chuvas alagaram as estradas e invadiram as casas.
Seguindo por uma estrada às margens dos alagados marinhos chegamos até Paraguaipoa a cerca de 30 minutos da fronteira. Neste local visitamos um hospital tipo II incorporado ao Barrio Adentro que está totalmente em reforma, remodelaçao e ampliaçao. Passo um bom tempo conversando com algumas gerencias locais que me detalham quais sao e qual a relaçao entre os serviços de saúde de Páez. Pela primeira vez vejo um trabalho conjunto entre Barrio Adentro e estrutura tradicional. Os novos consultórios populares foram colocados nos lugares onde nao tinham ambulatorios rurais, alguns de responsabilidade do governo estadual e outros do municipal. As açoes sao complementares, com o Barrio Adentro auxiliando com pessoal para a realizaçao de vacinas e médicos no lugares onde nao se consegue contratar. A maior parte dos médicos venezuelanos que trabalham nesta regiao estao cumprindo com o chamado "artigo 8". Este artigo obriga que todos os recém formados, antes de ingressar em uma residencia médica para especializaçao, devem trabalhar em locais sem assistência médica por 1 ano. Assim o corpo clínico da cidade é bastante rotativo, com exceçao daqueles profissionais alocados pela Misión.

Converso com uma médica venezuelana que está nesta condiçao, relata como este período foi importante para dar-se conta que existe uma outra realidade bastante distinta da de Maracaibo, profissionalmente contribuiu-lhe em superar um modelo de saúde puramente curativo, valorizando mais as atividades de prevençao e promoçao de saúde, além de ter aprendido a lidar com outros povos, outras culturas, outras classes sociais. O problema é o baixo salário, cerca de $900,00 dólares.
O novo projeto do hospital prevê mais consultas de especialidades, ampliaçao do laboratório, serviço de anatamopatologia, cirurgia ambulatorial e serviços específicos de emergencia adulta, pediátrica e obstétrica. O interessante é que o projeto prevê a existência de chinchoros nas observaçoes e internaçoes. Haverá um desenvolvimento e trabalhos com a medicina tradicional wayuü. Na emergência obstétrica haverá espaço específico para as comadronas, é uma tentativa de reduzir os partos domiciliares, aumentar a atençao médica à gestante e ao recém-nascido e assim reduzir a mortalidade maternoinfantil. Muita gente do povo wayuü nao permite que médicos assistam às parturientes.

Nao conseguimos chegar a um ponto turístico que queriam me mostrar (La Laguna), a partir de determinado ponto o alagamento ainda estava muito fundo. Mas algumas fotos interessantes estao aí, como o canoeiro que vai tirando sua canoa do rio para a estrada alagada. Em outra foto, o branco que se às margens da água é sal (paulistas, nem sempre branco na água é poluiçao! rs). Abaixo uma foto do Rio Limao.

E aqui vai se encerrando minha estadia em Zulia. Logo estarei indo para outro Estado. Ah! Dei-me conta que esqueci de contar de alguns passeios noturnos. Na terça (martes) fui com amigos conhecidos na internet passear um pouco pela cidade, conhecer as luzes natalinas (navideñas), abundantes e belas por aqui, depois conhecer o parque às margens do Lago Maracaibo, onde está montado um presépio em uma balsa no lago. Depois a boa cervejinha. No dia seguinte fui convidado a jantar com a companheira que me recebe por aqui. Gracias!

Segundo o amigo Google Earth, até agora andei mais de 2300 km. Isso traçando caminho retos, sem considerar que muitas das estradas que peguei é através de morros e, portanto, com muitas curvas. E vamos seguindo.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Wayuü (Guajiro)

Dos Wayuü podemos falar algumas coisas interessantes. Um pouco já escrevi acima. Existem três versoes para o surgimento da etnia, do povo wayuü. Contaram-me um pouco por altos, dizendo que todas as três sao aceitas. Uma delas diz que uma mulher origina este povo, mas que esta nao podia ter filhos, tinha dentes da vagina. Certo dia estes dentes foram arrancados e entao nasceu um casal de filhos. Geraçoes mais tardes seu Deus enviou uma pedra onde estava escrito como o povo deveria dividir-se, em clas, sendo cada um representado por um símbolo e tendo um animal por totem.

Essa etnia é matriarcal. A linhagem da família é transmitida pelas filhas mulheres, assim ao nascimento de uma mulher uma grande festa é feita. Também festejam o nascimento de um menino, mas nao tao intensamente. Caso uma mulher tenha um casal de filhos reconhece-se os auguros de boa sorte da família.

Para eles o chinchoro, uma rede de dormir, é um artigo sagrado e cumpre várias finalidades. Convidam as visitas importantes a descansar, dormem, é onde os homens descansam quando voltam do trabalho, onde se colocam os mortos.

Quando a mulher menstrua é isolada como uma preparaçao para a vida adulta. Sua mae da-le alguma papa uma vez ao dia e essa é toda a sua alimentaçao durante o período de isolamento. Ficam em um quarto escuro, sobre o chinchoro e assim devem ficar livres de qualquer contato, seja com outras pessoas, seja com a terra.
Ainda hoje muitos cultivam o uso de sua medicina tradicional e negam-se a partos em hospitais. Os partos devem ser feitos por mulheres, as comadronas.

As fotos sao de uma pintura na parede de uma escola em Mara, nela estao representados os simbolos dos clas, além de outros simbologias. A espiral representa as montanhas, o pontilhado indicado que o povo wayuü passou por ali, a tinaha onde se guarda água, com seu pescoço (cuello) adornado pois as mulheres precisam usar adornos no pescoço. Depois alguns dos artesanatos, bolsas e outras coisinhas e a roupa típica das mulheres. Por fim, um painel costurado com várias das representaçoes importantes a este povo (símbolos dos clas, o cultivo, a pesca, o sacríficio do bode para alimentaçao etc). Paineis desse tipo adornam as paredes de diversos estabelecimentos, desde a recepçao de CDIs até paredes do hotel
Hoje estou um tanto esgotado. Vou ficar por aqui. Assim que tiver tempo escrevo sobre a ida a Mara ontem e a Páez hoje.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

(continuando - 01/12)
Centro Piloto Toromo


Passamos rapidamente pelo Centro Piloto Toromo, também da etnia Yukpa. Muitas das pessoas nao estavam por ali, tinham ido para a cidade para a nomeaçao do novo prefeito. As pessoas por aqui ainda estao um pouco assustados. Há cerca de uma semana, durante uma forte chuva houve um deslizamento, grandes pedras e árvores vieram montanha abaixo, chegaram até a comunidade e atingiram a casa de apoio aos indígenas. Nesta casa pernoitam aqueles que sao de povoados mais distantes, que ainda levariam muitas horas para chegar em suas casas. Umas 20 famílias estavam por ali, quase todos conseguiram sair, mas 2 pessoas faleceram.

A primeira coisa que me veio a cabeça foi Santa Catarina e suas belas cidades alagadas, a centena de vítima e as dezenas de milhares de afetados...


No almoço, presencio o início de uma reuniao dos defensores de saúde, quase todos vindos das comunidades indígenas. Sou apresentado, começo a conversar com um e com outro. Logo um defensor se manifesta em voz alta, cobra mais recursos para sua comunidade, quer um médico para ela. Algumas pessoas parecem constrangidas com a cobrança dele. Ele nao deixa de ter razao, apesar de sua comunidade ser pequena. Concordo que nao tem cabimento colocar um médico para cada uma, tao pouco haveriam profissionais para isso, mas é interessante avaliar-se a irradiaçao das açoes de saúde do consultório popular do centro piloto que supre essa comunidade.


Yukpas


Dizem os ancianos que a primeira pessoa vivente era um homem, saído do tronco de uma árvore. Todos os dias ele ia só para o campo. Trabalhava na terra, semeava, cuidava dos animais e quando chegava na sua casa ia cuidar de sua vestimenta, de sua comida e da própria habitaçao. Sentia-se muito sozinho e muito atarefado. Queixava-se disso para o vento, para os animais. Um pica-pau, escutando sua tristeza disse-lhe que sabia onde poderia encontrar outros, mas que para isso precisaria andar muito e que ao chegar deveria bicar-lhe muito ao que ele tinha que gritar com uma voz muito aguda. Entao este yukpa aceitou a proposta, faria qualquer coisa para ter uma companhia para seu trabalho e para sua vida.
Assim foi. Depois de muito caminhar, o passaro começou a bica-lo e ele começou a gritar. Já estava ficando triste de ver que nada acontecia e que ninguém saía da mata. A ave entao mandou que ele corta-se o galho de uma árvore e voltasse para casa. E assim o fez. Nos dias seguintes à sua chegada, toda vez que voltava do campo encontrava a casa arrumada e a comida feita. Mas quem estava fazendo isso? Isso se repetiu por alguns dias, até que se decidiu em ficar nas redondezas para ver quem chegava. Para sua surpresa viu que uma mulher saía do galho que tinha cortado, fazia várias coisas na casa e depois voltava. No dia seguinte, ficou em sua casa e agarrou a mulher para que nao voltasse mais para o galho e lhe fizesse companhia. E assim nasceu o povo yukpa.


De suas tradiçoes conto dois fatos. As garotas, ao tornarem-se mulher, sao levadas à montanha e lá devem ficar retiradas por 5 dias, sem contato com ninguém além de sua mae. Assim estao preparando-se para a vida adulta. Para casar com uma mulher, o homem deve ter feito o cultivo de 5 produtos diferentes.


02/12 - San Enrique Lossada


Esta é uma cidade mais próxima de Maracaibo. Tem uma grande populaçao de indígenas da etnia guajiro ou wayuü, todos muito urbanizados. Nossa primeira parada é na Petrowayuü


A Petrowayuü é uma empresa de capital misto, 60% da PDVSA (estatal petroleira venezuelana), 36% da Petrobras e o restante de outras. Tem uma produçao diária de cerca de 10.000 barris de petróleo. 1.1% da declaraçao após abatidos os impostos (líquida/neta) deve ser revertido en projetos de apoio social. Da mesma forma, qualquer contrato que faça, a empresa contratante deve reverter 1.1% para esses projetos. No caso desta empresa, o que é gerado pelas contratista é acumulado anualmente para realizaçao de projetos maiores. Essas cotizaçoes sao constitucionais e têm provido a sociedade de muitos equipamentos sociais visando o desenvolvimento social, a diminuiçao da desigualdade social e a verdadeira inclusao e manifestaçao cultural dos povos indígenas wayuü. Dentre as obras realizadas, podemos citar algumas:

- Construçao de moradias para famílias wayuü sem moradia digna. Seu projeto foi desenvolvido em conjunto com representantes dos indígenas para a melhor adaptaçao possível à sua cultura.

- Construçao da Aldeia Universitária, obra para a Mision Sucre, para ensino universitário.

- Dotaçao de equipamentos estruturais e apoio logístico à Mision Barrio Adentro.

- Construçao do Centro de Capacitaçao para Conselhos Comunais. Visitei esta obra, que vai ser inaugurada na próxima semana. Vai cumprir com aimportante funçao de formaçao política, economica, administrativa e em saúde para os conselhos comunais da cidade. Está contando com duas salas de aulas e espaço para atividades culturais.

- Construçao do Mercado Artesanal. Foi inaugurado há três semanas. Os wayuü sao exímios artesaos, ali no mercado pude ver suas roupas, bolsas, gorros, calçados, bonecas etc. Fui regalado com um tapete! Belíssimo, onde pode-se ver o turpial (ou uuliuü), passáro típico e símbolo da regiao. Pego desprevinido, nao pude comprar alguma coisinha de lembrança. A organizaçao do mercado é feita por dois conselhos comunais e sua manutençao feita pelos próprios artesoes. Aqui é clara a regra que artesao é aquele que vive exclusivamente de seu trabalho manual, sempre com base na cultura indígena tradicional.


Passo por alguns consultórios populares. Tenho a oportunidade de conversar com alguns odontólogos e com um deportista, infelizmente nao encontramos médicos, já estavam fazendo trabalho em terreno. Uma das dificuldades que estes trabalhadores têm encontrado é justamente cultural com a populaçao, primeiro o medo de ondontólogo (parece ser um mal universal!) e depois que as atividades dadas pelos deportistas nao sao bem aceitas pela populaçao wayuü, de tal forma que sao pouco frequentadas. É um problema, já que estao na cidade, comendo as coisas da cidade também, logo também acabam sendo atingidos pela obesidade, hipertensao etc.


Escola Wayuü


Os indígenas sao historicamente discriminalizados e excluídos da sociedade. Sobrou-lhes, ao viver nas cidades, uma vida marginalizada e na pobreza. Visito um setor próximo ao depósito sanitário da cidade, do qual muitas pessoas sobrevivem (tal como vemos no Brasil) e no qual muitas crianças brincam e ajudam suas famílias.
Diante desta situaçao, nos últimos anos a populaçao organizada conseguiu que fosse construída uma escola na área. Ainda assim tiveram dificuldade em participar da vida da escola. Depois de muita luta a escola passou a atender e a incluir a populaçao wayuü (que compoe quase 100% da populaçao dali) e passou a se chamar Suurla Wakuaiipa (Raízes da Cultura).

Agora essa escola conta com um corpo docente exclusivo de membros das famílias wayuü, que além de realizarem o ensino bilingüe cultivam toda a cultura tradicional. As professoras todas estao vestidas com as mantas típicas, adornadas com costuras coloridas ou com os símbolos das famílias desenhados (sendo o da família a que pertence a professora, no peito).
A comunidade fez um censo das crianças que viviam por ali e foram, pouco a pouco, tirando-os do lixo (basura) e colocando de volta para os estudos. Como muitos estao com os estudos atrasados, hoje a escola atende crianças de 6 a 15 anos (nos 6 anos de estudo primário). Muitos pais também pararam de recolher lixo e se tornaram funcionários da escola.
Passeando pela escola, vejo as crianças preparando artesanatos para o natal e fazendo taparas (uma cuia onde se toma sopa, ou líquidos em geral). Uma sala está equipada com vários computadores, ligados em software de linguagem livre (Ubuntu) e alguns programas estao sendo traduzidos para o idioma wayuü.

Infelizmente estou com dificuldades de anexar as fotos aqui. Elas podem ser conferidas no endereço http://picasaweb.google.com/lh/photo/mhuDmwW_PqfiiDSK8LMM6g.
Hoje já nao dará mais tempo de escrever das atividades de hoje, tao pouco as legendas das fotos. Assim que possível faço-o. De toda forma, para quem está acompanhando o blog será fácil seguir a cronologia das fotos.
Abrasos

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Zulia y el trabajo con las comunidades indigenas

Hola.
¿Buenas?

Algunos compañeros pediranme que escribisse en español también. Ahora empiezo a ganar un poco más de confianza para intentarlo. Lo problema és que mi tiempo en un computador és pequeño e tardo más para escribir en castellano. Hoy mismo tendria la gana de escribir biligue, pero lo cyber ya esta cerrando! Entonces voy intentar continuar traducindo algunas palabras entre parentesis.
¡És una pena que ni mismo voy conseguir hablar de toda la experiencia de ayer y hoy!
¡Ah! ¡Y se escribí alguna cosa equivocada, por favor, corijanme! ¡Gracias! ¡Hasta Luego!

A viagem de Barquisimeto para Maracaibo é muito linda. Mudamos de uma paisagem de morros cobertas por xerófilas para uma paisagem mais tropical e mais plano. Muitas vezes, da estrada, olhava para fora e via um extenso lençol azul celeste, apenas com alguns flocos de algodao dividindo espaço com um, também extenso, tapete verde. Até onde a vista alcança. Maracaibo é uma cidade muito grande à beira do grande lago Maracaibo. Para chegar à cidade é necessário atravessa-lo por um longa e bela ponte. Domingo fico pelo hotel e segunda começa a volta pelas cercanias da cidade visitando comunidades indígenas.

Machique (01/12)

O caminho para cidade Machique é longo, cerca de duas horas de viagem. Pouco a pouco as planícies cedem lugar para uma serra à oeste. É a Serra Perija, reserva ecológica e fronteira da Venezuela com a Colômbia. Chegamos ao CDI local, onde sou recebido pela coordenaçao, por representaçao dos comites de saúde e por pessoas envolvidas com a coordenaçao para orientaçao e saúde indígena.

Logo uma agradável surpresa, para o melhor desenvolvimento das atividades, melhor acolhimento e inclusao dos povos indígenas Barrio Adentro e Coordenaçao de Saúde Indígena estao conseguindo fazer uma boa integraçao e açoes conjuntas.

Existe uma organizaçao muito bem sistematizada desses povos. Para cada grupo de comunidades existe um centro piloto, ou seja, uma comunidade maior que abriga escolas, consultório popular, mercado e outros equipamentos sociais que se façam necessários. Vivendo na Serra Perija, estao as etnias Guajiro, Bari e Yukpa, algumas de suas comunidades que acessam aos centros pilotos sao próximas mas muito pequenas, outras sao distantes e de acesso bastante difícil (apenas a pé ou em mulas, ao que podem levar até 7 horas de viagem). Cada comunidade tem seu cacique e tem também um defensor de saúde treinado para fazer o apoio de saúde à sua comunidade a ajudar os enfermos a recorrer aos centros pilotos ou à cidade. Chegando na cidade encontram o apoio da coordenaçao de saúde indígena que os ajuda a se movimetnar pela cidade, localizar os lugares a que precisam ir, entender as explicaçoes médicas e o tratamento necessário e a deslocar-se para Maracaibo caso necessite de alguma intervençao de alta complexidade.

Centro Piloto Shirapta (Yukpa)
O caminho é bastante acidentado, beirando alguns abismos, cruzando rios que passam por cima do caminho, com paisagens lindas. No caminho as crianças param pare ver quem está passando, alguns pescam no rio, muitos acenam-nos. Os adultos também param o que estao fazendo, curiosos para saber quem passa. Sao várias pequenas comunidades, às vezes de apenas 3 casas. Casas pobres, de madeira mal assentada ou de lata, algumas com o teto de palha.

Ao chegar, reparo que logo na entrada está um cemitério, todos os túmulos muito enfeitados por flores. Um pouco mais para frente paramos na frente do consultório popular. Nele trabalha um médico formado pela Escola LatinoAmericana de Medicina (ELAM), um Hondurenho. Infelizmente, no momento que chegamos ele nao está. Tem uma estrutura parecida com os outros, mas na sala de curativo tem também uma maca obstétrica, os partos daquelas mulheres que vivem mais longe sao feitos ali.
Procuram pelos caciques, os primeiros nao estao, foram às cidade para a posse do prefeito (alcade) eleito, quem me recebe é o terceiro cacique, o cacique das crianças (niños). Ao receber-me está com um chapéu de palha e vários adornos coloridos. Conversamos um pouco. É uma conversa um pouco truncada, ele também fala pouco espanhol. Aliás, a cultura indígena tem sido tratada com grande importância. As escolas que atendem a essa populaçao sao bilingues e as pessoas tem se organizado para resgatar pouco a pouco o que foi perdido de seus costumes.

Depois de pouco tempo aparecem algumas senhoras, que cantam e dançam (bailan) para nós. Em seguida convidam-me para bailar junto e encerram presenteando-me com um colar. Um colar de sementes vermelhas, três de diversos tamanhos, de kuchutú, de pepa de samuro e de kaufa enucha.

domingo, 30 de novembro de 2008

Visito um CDI/SRI em uma cidade interiorana. Já está em funcionamento há alguns anos, desde que a Mision Barrio Adentro assumiu o edifício onde se localiza hoje e cujas obras já estavam paradas há 7 anos. Conta com um serviço de cirurgia ambulatorial (pequenas cirurgias, esterilizaçao, hérnias, colecistectomia e traumatologia e ortopedia de baixa complexidade) e com cirurgias pela Mision Milagro.
O tempo foi curto para tanto aprendizado! Teríamos que voltar para capital no almoço, mas a conversa com a gerência foi tao boa e tao proveitosa que nao conseguimos sair antes das 14:00. Em que pese que com isso nao consegui conhecer todo o serviço, só a parte relacionada a reabilitaçao.

Nesta conversa consegui explorar bastante sobre como é o modelo gerencial do serviço. Para cada setor existe um responsável, encarregado por reunir sua equipe e reunir-se com os demais responsáveis por setor e com a coordenaçao geral. As reunioes setoriais devem propiciar o trabalho em equipe, utilizar metodologias participativas, incetivar e motivar os trabalhadores e assim poder explorar o potencial e o talento que cada um está disposto a oferecer ao serviço.
Todas as manhas o conselho administrativo, composto pelas chefias dos setores, reune-se por volta das 7:30. A reuniao deve ser breve e operativa, tem o propósito de avaliar os acontecimentos do dia anterior e planejar as açoes do dia que se inicia e assim, durante o dia, dedicam-se mais a supervisionar e checar as açoes determinadas.

Algumas das metodologias que utilizam sao técnicas de reunioes participativas (aparentemente com bastante influencia de Paulo Freire), o planejamento estratégico, a matriz DAFO e a direçao por valores.
Realizam trabalhos em torno da determinaçao de fluxos e protocolos para o serviço. Avalia-se que todos esses protocolos e fluxos sao construídos com a equipe, que é muito consciente dos mesmos. Para proteçao do trabalhador pontos de risco sao caracterizados, descritos e as prevençoes a acidentes trabalhadas com a equipe.
Para educaçao permanente (e gestao) realizam reunioes semanais com o corpo clinico.
Realizam um trabalho de vigilancia epidemiologica da populaçao que atendem de forma permanente, buscando intervir no problemas que surgem ou nos problemas mais prevalentes, nao sao com a adequaçao do serviço a essas demandas, como também com a realizaçao de trabalhos comunitários em conjunto com os consultórios populares e com a rede ambulatorial existentes na regiao.
Para avaliaçao utilizam-se de indicadores de processo e de resultados e da análise da situaçao de saúde da populaçao que atendem. Intensionam, neste próximo ano, implantar a pesquisa de satisfaçao entre os usuários.

Na integraçao com os outros serviços buscam suprir algumas debilidades. Por exemplo, realizam sorologias para hepatite B e C e Chagas, mas nao tem aparelhagem para realizar para os testes para sífilis e HIV, encaminhando os pacientes para um serviço da rede ambulatorial que os contenha.
Esse trabalho intenso e apaixonado faz a gerencia crer que os problemas estruturais nao afetam o funcionamento do serviço devido ao intenso trabalho com seu corpo profissional. A manutençao da motivaçao e do empenho altos faz com que consigam contornar esse problemas de forma fácil e tranquila.
Outro problema que tem sido encontrado é a resistência de alguns setores em se tratar com os profissionais cubanos. Isso está sendo tratado com o tempo, trabalho e exemplo. Contam-me de um caso de uma pessoa que se acidentou na estrada que fica ali perto, nao queria ser tratada por cubanos de nenhuma forma, mas mediante da falta de recursos e condiçoes clínicas para ir para outro lugar acabou cedendo e deixando-se ser operado ali. Acabou se converter em um boa propagandista do CDI.

Pane! Ao ir conhecer o serviço de reabilitaçao (que nao me canso de dizer que é um exemplo a ser exportado!) paro para conversar um pouco com um paciente. Sujeito muito feliz e muito bem humorado. Descendente de jamaicanos fala inglês fluentemente e era neste idioma que conversava com o técnico que o atendia (cubano, também de ascendência jamaicana). Querendo brincar comigo começou a conversar em inglês comigo também. Meu processador mental travou! :-P Fui incapaz de lembrar nenhuma palavra em inglês para responde-lo! Pouco depois iniciamos uma divertida conversa em que eu falava em português, o cubano em espanhol e o paciente em inglês! Só para relatar um episódio divertido...

Agradeço aos companheiros deste serviço que foram extremamente abertos e que me deram verdadeiras aulas. Além disso, passaram para meu pendrive uma enormidade de material de gestao, coisas daqui e coisas de Cuba. Nesta hora faz falta o laptop para estudar essas coisas noite adentro. Também tenho fortes expectativas que possamos manter o contato e continuar nossos intercambios.

Vale relatar também algumas experiências de Cuba que fui escutando durante a semana. Na década de 80 a ilha teve sérios problemas com epidemias de dengue, para combater o vetor realizaram entre outras coisas a formaçao de brigadas anti-vetorial. Nesta estratégia davam aula para estudantes de 13 a 15 anos interessados, sobre como combater o Aedes. Isso somado a trabalhos comunitários e os intensos trabalhos das equipes de saúde os fez conquistar áreas livres do Aedes, ainda que algumas mantenham sua endemicidade. Assim, a dengue é uma doença totalmente sob controle.
O começo do trabalho dos cubanos foi muito difícil, a resistência era muito grande, mas com o tempo isso mais se dissolvendo e agora avaliam que o trabalho tem sido muito recompensador. Dizem que profissionalmente vir a Venezuela foi uma grande experiência, aqui podem atender a enfermedade com sao mais raras ou nao existem na ilha. Impressionam-se por exemplo com a quantidade de gravidezes na adolescência, com a multiparidade ou com a mortalidade infantil por diarréia. Esta oportunidade de conhecer um país que trabalha/trabalhava sob o signo do capitalismo os fez valorizar ainda mais seu país e seu processo revolucionário, assim como apoiar o processo que se desenvolve por aqui. A recompensa por tanto sacrifíco? Reconhecimento moral, a satisfaçao de ajudar a mudar um país que estava muito carente de assistência em saúde. Gostaria muito que pelo menos uma parte dos meus colegas (re)descobrissem como é mais gratificante trabalhar por alguma coisa que nao seja dinheiro. Alguma coisa mais importante do que isso. Enfim...

Para encerrar. Hoje fecho a primeira metade da minha estadia aqui na Venezuela, daqui a pouco estarei a caminho de Maracaibo. Barquisimeto nao será mais o refúgio dos finais de semana. Deixo, já com muitas saudades, a família que me adotou aqui na Venezuela. Talvez nao tenham consciencia, ou talvez sim, do quanto foram importantes para mim nesta viagem, do quanto aprendi com eles e carrego na minha bagagem para a vida. Só o muito obrigado pelo carinho e pela amizade! Claro! Especial agradecimento a Camilo que me emprestou seu quarto e sua cama!