terça-feira, 4 de novembro de 2008

Inserçao dos alunos nos serviços tradicionais

Agora publico algumas coisas que escrevi dias 05 e 06. Tive dificuldade em publica-lo dia 06 (por autocrìtica ao texto, mas resolvi nao edita-lo). E nao acessei a internet dia 07.

---------------------------------------

Hoje está mais difícil para escrever... Faz exatamente uma semana que estou por aqui. Está sendo realmente muito bom! Nao tenho nem o que falar... Só estou com saudades... naturalmente... Saudades da pessoas... muitas. Ou de coisas bobas também, que "só no Brasil tem", como tereré (ótimo para esses dias de calor e muito trabalho) e coisas assim. Enfim... amanha acordo melhor.

Ambultorio de Pueblo Nuevo

Fui a este ambulatório ontem (05/11), nao fica tanto na periferia da cidade. Está mais bonitinho, mais enfeitado e também mais vazio. Sao poucos os pacientes nas salas de espera.
O grupo de diabetes é também para a entrega de medicamentos. Está cheio! Devem ter uns 30 idosos! Inicia com a conducao de uma estudante, faz um aquecimento. Os idosos se divertem... Depois outra, com tanta desenvoltura quanto, faz uma memória do encontro anterior. Em seguida discutem sobre algumas das complicacoes do diabetes. Dizem-me que as técnicas de conducao de grupo sao aprendidas ao longo do curso, em aulas como as de antropologia e outras.


Um senhor diz-me que já faz parte do grupo há 16 anos! Sempre gostou muito de participar e de frequentar o ambulatorio, sendo sempre muito bem tratado. Teve dificuldade em aceitar a doenca e em aceitar que tinha que tomar a medicacao o resto da vida. Teve severa piora e as consequencias só nao foram mais severas e permanentes porque teve melhora com o uso de "medicina alternativa" e acupuntura (palavras suas). Conta essa sua história de vida disparadamente. Tenho poucas chances de perguntar-lhe qualquer coisa porque logo se vai, está sendo chamado para ensaiar um ato teatral que vao apresentar por ocasiao das comemoracoes do dia do diabético. Diz que é muito bom conversar com os médicos porque eles têm muitos conhecimentos, mas diz (espontaneamente!) que os médicos também podem aprender muito com ele, porque ele tem outros tipos de conhecimento...

Outras conversas passam pela questao da falta de médicos nos ambulatórios da periferia. Referem motivos como baixos salários, as vezes condicoes de trabalho que nao les agrada, sensacao de inseguranca, mas o tema do baixo salario aparece forte.

A insercao da Faculdade

Os alunos (de medicina e enfermagem) da Universidad Centro-occidental Lisandro Alvarado vao para a comunidade desde seu primeiro semestre. Esse primeiro contato é mais superficial, com visitas ao longo do período letivo. Sao atividades mais relacionadas ao diagnóstico do território. No 2º ano sao atividades relacionadas ao estudo da comunidade. No 3º ano, na disciplina de epidemiologia, existem contatos pontuais, relacionados ao estudo do bloqueio de doenças transmissíveis.

No 6º ano a inserçao é intensiva. Sao 20 semanas de estágio em um ambultório urbano e 10 semanas em um ambulatório rural. Os objetivos dos estágios sao construidos conjuntamente entre professores, alunos e comunidade. A comunidade acompanha o trabalho e também atribui notas, informais, mas consideradas pelos professores.
De um universo de 100 alunos, grupos de 4 a 6 passam em cada ambulatório. O estágio é composto por atividades comunitárias e coletivas, consultas individuais e um trabalho de investigaçao (cuja tema é mais aberto à escolha do aluno, apesar de se tentar uma induçao para que faça algo para devolver para a comunidade). Até a 3ª semana os alunos tem que apresentar um projeto de trabalho. Ao final do estágio devem apresentar um relatório, que deverá ser devolvido à comunidade também. Este trabalho pode ser influenciado por demandar inclusive do ministério da saúde, para intervir em uma epidemia, por exemplo.

Algumas leis os afetam diretamente. Devem exercer, a partir do 7° semestre, 120 horas de trabalho comunitário. Parecem ter alguma dificuldade com isso, nao há horário na grade e acabam fazendo-o de noite ou fins de semana. Em geral o cumprem até o 9° semestre porque ficaria muito difícil de faze-lo no 5 ou 6 ° anos (que contam-se só depois de 9 semestres). Depois de formados devem trabalhar por 1 ano em zonas rurais ou áreas onde a falta de médico seja crítica. Esse tempo pode ser susbstituído pela residencia de Medicina Geral e Integral.

Daqueles com quem conversei, parece que gostam da faculdade, mesmo ela sendo pequena e cinza (palavras deles). Sentem que tem mais matériais do ciclo básico e mais trabalhos comunitários que outras faculdades. De toda formam reconhecem a importancia e até gostam de fazer os trabalhos comunitários

Algumas consideraçoes:

Esses serviços guardam muitas semelhanças com nossos centros de saúde, particularmente os de Campinas. Para os colegas venezuelanos faço alguns apontamentos, obviamente baseados em conversas e observaçoes superficiais. De fato a equipe é pequena, isso ajuda que algumas atividades sejam distantes demais da vida das pessoas, pelo menos do que eu esperaria de um serviço de atençao primaria. Mesmo tendo em consideraçao a escassez de recursos para isso, seria interessante criar novas formas de gerir os rescursos já existentes, talvez outras formas de organizar o cuidado e o serviço deem mais respostas à populaçao. Apenas experimentando pode-se descobrir. Lembrar que aqui o sistema de saúde nao é municipalizado, o que dificulta um pouco a busca de recursos para essas criatividades para as modelagens locais, mas também facilita a criaçao e a implementaçao de uma política diretiva em todo o país (há de se considerar que a Venezuela é bem menor geografica e populacionalmente - aproximadamente 24 milhoes de habitantes).

Com tais proporçoes de profissional/habitante, parece-me que o serviço esta um tanto distante da populaçao, de seu cotidiano. A dificuldade de se fazer visitas domiciliares evidencia um pouco disso...
Chama a atençao como este tipo de serviço é médico-centrado. Depende do médico para desenvolver-se. Aparentemente isso deve-se, entre outras coisas, ao incipiente desenvolvimento das outras carreiras da saúde (pós-graduaçao em enfermagem, por exemplo, parece ser coisa existente há poucos anos.). Inclusive a coordenaçao de ambulatórios tipo II e III é necessariamente exercida por médicos (sanitaristas).

De toda forma, estes serviços estao sendo chamados de tradicionais. A proposta do Barrio Adentro viria para mudar várias dessas coisas. A experiência nele deve começar segunda (lunes).

-----------------------------------------------

Esse fim de semana foi um bate e volta em Caracas. Tadavia essa é outra história e ficará para amanha porque já passa da 0:30 e estou cansado da viagem.

Nenhum comentário: