sábado, 13 de dezembro de 2008

O puro ar das montanhas

CAT (09/12)
O Centro de Alta Tecnologia de Táchira foi inaugurado há 2 anos. Hoje trabalha de segunda (lunes) a sabado, com uma produtividade que me parece impressionante. Por semana, se faz cerca de 20 videoendoscopias, 130 mamografias, 240 estudos de ressonancia magnética em 140 pacientes, 500 estudos de tomografia em 200 pacientes, 130 densitometrias, mais de 2000 exames laboratoriais sorológicos (aqui conhecidos como sistema ultramicro analítico - SUMA) e mais de 6000 estudos laboratoriais diversos. Realiza também ecocardiografia, podendo ser usado recursos como a eco transesofágica, em 3 dimensoes e a eco de stress, mas o aparelho esta em manutençao no momento. Resultados laudados sao liberados em até 48 horas. Estao sendo realizados estudos para a implantaçao de exames contrastados no próximo ano.
Conta com 26 trabalhadores cubanos e 9 venezuelanos, organizados em departamentos, cada qual com um coordenador. O conselho diretor é composto por esses coordenadores e se reune 3 vezes por semana pela manha, em reunioes rápidas e objetivas (nao mais que 15 minutos) para atualizaçao de notícias, troca de informaçoes e discussao de problemas a serem resolvidos no dia. Também se reunem todos os dias no fim da tarde para avaliaçao e planejamento (evaluación y planificación).
A distribuiçao de vagas é realizada primeiro para os serviçoes do Barrio Adentro. Como as ASIC têm reunioes semanais, semanalmente os coordenadores recorrem ao CAT para fazer o agendamento de seus pacientes, de forma que este só precisa ir a San Cristóbal no dia que vai realizar o exame. Fazem uma classificaçao de risco baseada em idade e no que é informado como resultado da reuniao da ASIC. De toda forma sempre sao reservadas algumas vagas para emergencias, vagas do dia. Ainda assim restam vagas que sao usadas pelos outros serviços públicos, serviços privados e colombianos (a saúde na Colômbia é privada e muito cara, fazendo que com muitas pessoas procurem formas de serem atendidas na Venezuela).
Sao relatadas ótimas interaçoes com os outros serviços públicos e boa aceitaçao pelos médicos que atuam em instituiçoes privadas. Ainda assim essa divisao Barrio Adentro e outros serviços públicos me incomoda conceitual e praticamente. Aqui parece-se avançar bastante na integraçao destes serviços, mas ainda deve-se caminhar para uma integraçao total, para um sistema único de saúde.
O CAT libera boletins semanais com os dados da sua produtividade e boletins mensais com pequenos artigos de revisao realizados pelos trabalhadores, discussao de algum caso interessante e alguma coisa sobre história da saúde e/ou da América Latina.

Viajando entre montanhas
A viagem para La Grita é marcada por muitas curvas bastante acentuadas e uma estrada estreita, mas uma paisagem simplesmente maravilhosa! Ainda mais prazerosa pelo aroma de eucaliptos que envadia o carro, ou pelo cheiro de mato molhado, ou pelos cultivos de flores, ou, por fim, pelas belas e simpáticas casas campesinas e coloniais e se espalham pela regiao.

A ASIC de La Grita ainda está um pouco carente de pessoal, tem sido sua principal dificuldade. Atualmente atende a duas cidades e alguns povoados, somando uma populaçao de cerca de 50.000 e que conta com apenas 5 médicos em 4 consultórios populares. A maior parte dos outros serviços do Barrio Adentro concentram-se no edifício do CDI/SRI, além das atividades comuns a esses serviços já descritas conta com um centro cirúrgica, com uma equipe de oftalmologia ampliada para atender à Misión Milagro e o serviço de optometria. A oficina (taller) da optica e a odontologia estao em outro edifício.
Na gestao também lançam mao de um conselho de direçao, que aqui reune-se com periodicidade na definida, mas no máximo mensal. Também utilizam-se das reunioes de entrega de plantao (guardía) ampliada, pela manha para avaliaçao do dia anterior e pela tarde resumindo os acontecimentos do dia, além da troca de informaçoes gerais, políticas ou de saúde.
Conta com 4 camas de terapia intesiva, 2 camas de hospitalizaçao, realiza cerca de 4 cirurgias eletivas por dia, além das cirurgias de urgencia. Dentre os procedimentos que realizam estao os oftalmológicos (catarata, pterígio, laser etc), calecistopatias, hérnias de parede, histerectomias, urgencias abdominais e traumatologia de complexidade secundária. Casos mais complexos sao encaminhados para o Hospital Central de San Cristóbal, casos obstétricos para o CDI de cidade vizinha (La Fría). O tempo de espera para a relizaçao de uma cirurgia, depois de sua indicaçao, nao passa de uma semana. Existe vigilancia sobre as complicaçoes cirúrgicas e anestésicas, mas em todo seu período de funcionamento nao foi registrado nenhum caso.
Se integra com o hospital local na troca de diversos serviços (como cremaçao de lixo - basura - biológico). A manutençao preventiva é realizada por técnicos de eletromedicina com plano pré-definido.
Para o próprio CDI a questao da falta de pessoal continua sendo um problema. De forma que mesmo quando o cirurgiao e a anestesista nao estao de plantao, como sao os únicos, devem estar todo o tempo acessíveis para resolver possíveis emergencias.

Informaçao interessante, quando os profissionais cubanos vem à Venezuela passam por uma rápida preparaçao onde discute-se um pouco das enfermedades que nao se têm mais em seu país: Doença de Chagas, Leishmaniose, acidentes com serpentes, emergencias relacionadas ao uso de drogas.
La Grita herda esse nome da tribo indígena que vivia na regiao de sua fundaçao. Nela está a igreja de Santo Cristo de La Grita, um santo muito reverenciado em Táchira. Diz-se que depois de um forte terremoto há maisde um século (?) um padre começou a esculpir uma imagem de Jesus Cristo em um pedra, mas foi incapaz de esculpir seu rosto. Por vários dias tentou, sem sucesso. Certo dia chegou ao local e a imagem do rosto estava esculpida. Diz-se também, que nessa mesma regiao, havia um limoeiro que, depois de muito tempo de epidemia de peste, curava as pessoas que nele entravam.
Na volta passamos por mais um povoado, Seboruco. Tomamos um caminho menos acidentado para voltar a San Critóbal, a autopista panamericana. Com belas paisagens mas sem tanto ares de montanha...

11/12
Passamos por outro CDI com centro cirúrgico em San Cristóbal. Fizemos uma passagem pelas diversas atividades realizadas. Um serviço um tanto estrangulado pela demanda. Suas taxas de ocupaçao estao sempre beirando os 100%! Tem um funcionamento semelhante ao visitado no dia anterior. Também comparte algumas atividades com um hospital que tem ao lado, como a parte de lavanderia, por exemplo. Anotei poucas coisas dessa visita, foi um tanto conturbada e com resistências ao início...

O fim da tarde e a noite marcaram mais. O amigo Jimi, que tém acompanhado-me em todas as atividades por aqui leva-me para conhecer os povoados de Capacho e Peribeca. Sao dois lugares turísticos, muito acessados nos fins de semana para festa, reunioes com os amigos, para curtir a natureza, para beber ou simplesmente para passear. O que se bebe muito por aqui sao as bebidas típicas, destilados descansados em ervas ou esquentados para rebater o frio da montanha (estes chamados de calentados).
Em Capacho (sao duas cidades conjugadas, Capacho Independencia e Capacho Libertador) existe uma regiao muito alta onde está um Cristo e um pequeno parque. Parece ter uma paisagem incrível, mas a neblina muito cerrada impede-me de vê-la! No centro do povoado existe uma praça um tanto movimentada, um sistema de som contribui ainda mais para torna-la um lugar muito agradável. A música nao cessa.
Na praça central de Peribeca existe a igreja de pedra. Uma igreja dedica a Nuestra Señora del Carmen, feita em pedra, com lustres em ferro e teto de madeira. Para uma igreja católica apresenta-se com uma arquitetura bastante distinta das que já conheci. Ao lado dela um corredor com casinhas geminadas muito graciosas onde se vende artesanato, comidas e bebidas típicas. Apenas a primeira estava aberta, onde pude experimentar um pouco dessas bebidas.

Hospital Oncológico (12/12)

Adoro quando as coisas tomam seu próprio ritmo! Estávamos dando uma volta por dentro do complexo hospitalar do Hospital Central de San Cristóbal, começou a chover, demos carona a uma trabalhadora que estava indo de um edifício para outro, do Hospital Central para o Hospital Oncológico. Rapidamente convidou-me a entrar para conhecer o hospital recém inaugurado, lá fui apresentado a uma médica sanitarista com quem pude trocar muitas idéias e conhecer um pouco mais da organizaçao do serviço e do sistema de saúde local.
É um hospital de complexidade terciária/quartenária destinado a realizaçao de tratamento dos mais diversos tipos de enfermedades oncológicas sendo, para isso, equipado com serviços de quimio e radioterapia e centro cirúrgico. Como ainda está na primeira fase de funcionamento conta com apenas 40 camas de hospitalizaçao e 4 camas para terapia intesiva. Se pretende atender a populaçao dos Estados Táchira, Barinas e Apure, além do norte da Colômbia.
Para ingressar no serviço o paciente deve vir com o encaminhamento para tratamento (diagnóstico já realizado). Será atendido por uma equipe multidisciplinar que realizará uma classificaçao de risco baseada em condiçoes clínicas e sociais. É realizado um seguimento estreito do paciente durante o seu tratamento, trabalhadores sociais dedicam-se a saber do paciente, investigar faltas e ajudar para que o conclua.
Foi muito prazeroso este intercambio. Discutimos formas de realizaçao de classificaçao de risco, gerencia de caso, metodologias para acompanhamento do caso... Muito bom!

No fim da tarde, passeio pela Reserva Ecológica Chorro del Índio. Nele um mirado fantástico, donde pode-se ver toda San Cristóbal, é o Lomas del Viento. Chorro é cachoeira. O Chorro del Índio é uma bela cachoeira cujas águas caem e escorrem entre pedras marrons. Recebeu este nome porque tradicionalmente escuta-se de pessoas que viram um índio no alto da queda de água. É impossível para a máquina fotográfica captar a amplitude das paisagens! Impossível! Coisa para ficar registrada na memória mesmo! Adornando as encostas do parque várias flores, orquídeas brancas e amarelas crescendo em seu habitat natural...

Um comentário:

Milena disse...

Lindas fotos, Bruno!!!
Beijos!
Milena.