sexta-feira, 21 de novembro de 2008

E o que passou essa semana em San Felipe?

Muita, mas muita chuva! Semana inteira chovendo! Dificultou um tanto sair do hotel de noite com o diário para transcreve-lo! No caso, o diário é um bloco de papel que neste momento começa a desmontar! :-P
Ontem, quinta 20/11, fui a um consultório popular mais afastado, dito de zona rural. Quarta e sexta foram dias pouco produtivos por alguns desencontros. Paciência.

Disposiçao e jovialidade

Este consultório popular está em funcionamento há 5 anos. Há alguns anos foi construído o módulo. O projeto arquitetônico do módulo é da primeira leva que foi construído, aparentemente foi abandonado depois. Constitui-se de um hexagono de 2 andares. Embaixo está o consultório, dois banheiros, uma sala de espera e a sala para curativos e vacina, em cima fica uma moradia para o médicos cubanos que estao em missao no país. Apesar de bonitos, os tijolos a vista sao um problema quando se trata de serviços de saúde, visto que sao mais difíceis de limpar e acumulam sujeira mais rapidamente.

Uma médica e uma defensora de saúde conduzem este consultório com extrema organizaçao. Tudo muito limpo e muito arrumado. Na sala de espera um quadro situacional bastante detalhado.

Muita paixao e satisfaçao! Esse é o testemunho desta médica. Diz como a satisfaz esse trabalho com o Barrio Adentro, pode extrapolar muito a atividade clinica dentro do consultório e trabalhar em cima da qualidade de vida das 250 famílias pelas quais é responsável. Assim desenvolve atividades esportivas, sociais, culturais, de geraçao de renda. A comunidade e o comite de saúde é muito participativo e atuante ajudando no progresso e manutençao das atividades. Diz que sem dúvida ela mesma é mais feliz e saudável com este trabalho.

Atende uma gestante, usa o estetoscópio de Pinnard para localizar o foco. Na graduaçao tinha até facilidade de fazê-lo com o doppler, duvido que o conseguiria tao de pronto com isso!

Com "Los ases de la salud", formou grupos de crianças de 9 a 13 anos. Trabalha com os mesmos sobre doenças infecto-contagiosas, sexualmente transmissíveis e doenças crônico-degenerativas nos aspectos de prevençao e promoçao. Posteriormente essas mesmas crianças começam a trabalhar com a comunidade, fazem palestras na sala de espera do consultório para ensinar aos adultos, entre outros.
O "Club por una vida saludable" agrega pacientes hipertensos, diabéticos, asmáticos etc para falar sobre suas patologias e sobre suas vidas.

Saímos para fazer o trabalho em terreno. Paramos em uma padaria, localizada em um domicílio. A mulheres que cuidam da mesma dizem que o negócio vem da Misión Madres del Barrio. Nesta missao cada uma delas recebeu um auxílio financeiro para fazer um estudo profissionalizante, fizeram em panificaçoes. Como a outra padaria que tem por ali é longe, estao tendo sucesso com o negócio, o que constato vendo a alta produçao de paes. Uma das mulheres que ajudou a montar a padaria saiu do grupo depois, com o dinheiro do auxílio conseguiu, além de fazer o curso e ajudar a montar padaria mudar sua família de uma casa de lata para uma de tijolos. A casa de latas é um cubículo para paredes de zinco e teto de plástico, ainda está atrás de sua nova casa.

Fazemos visita a uma jovem que concentra muito as preocupaçoes da médica. Vive em uma casa com paredes de tijolos mal acabadas. Apesar das frestas e dos buracos no teto de plástico o calor é muito intenso. Sofre de uma depressao pós-parto. Para piorar a situaçao seus pais sao falecidos e nao conta com nenhuma forma de apoio do pai de seu recém nascido filho. Suas duas filhas mais velhas, ainda crianças novas correm pela casa e assistem com muita curiosidade a tudo, outras crianças se juntam a elas depois. Gatinho, franguinho... As olheiras da mulher já chegam às asas nasais. Sao muitos dias sem dormir. Medicamento nenhum dá conta da situaçao. Tao pouco o psiquiatra, com quem terá consulta próxima semana. É o médico, envolvido com esta família, fazendo visitas quase diárias que pode ajudar a conformar uma rede de apoio social à jovem mae. Afinal, por exemplo, como medica-la para que durma e deixar as crianças sem ninguém que olhe por elas? Neste dia uma prima chegou para ajuda-la, medicamos a mulher em sua própria cama.

Continuando com as visitas, várias senhoras falam sobre os encontros para exercícios e "bailoterapia". Todo dia pela manha e terças, quartas e quintas à noite a médica conduz atividades físicas e atividades físicas com música. Cada dia conta com a participaçao de 15 a 30 pessoas. Sao muitos relatos sobre como essa atividade influenciou suas vidas. Perda de peso, melhor controle da hipertensao e da diabetes, melhora da qualidade de vida, melhora da capacidade de socializaçao, expressivo aumento da auto-estima e da jovialidade perante a vida.

Para terminar o dia acompanho a "bailoterapia". As crianças acompanham, três meninas. A mais jovem, com cerca de 6 anos acompanha a empolgaçao e disposiçao dos adultos, que pulam, rebolam, gritam, riem! Belo! Sim, duas meninas de uns 11 anos ficam um pouco mais envergonhadas em acompanhar suas maes em movimentos tao expressivos e em gritos de ânimo. Eu? Bem que tentei acompanhar! Mas provei que, a despeito da fama, existem brasileiros que tem o gingado de um robô!
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Agora, encerrada minha estadia na terra das chuvas e das montanhas muito verdes. Por sinal, diz-se que ontem, que quase tive que nadar nas ruas (ok! estou sendo dramático!), choveu muito em todo país. Lastimo apenas ter conhecido muito pouco da cidade.
Fim de semana na cidade crepuscular e depois para outro estado de novo. Guarico.

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